Somos extra-terrestres

Os cientistas que estudam o famigerado “Big-Bang” dizem que o fenômeno ocorreu há aproximadamente 20 bilhões de anos, A partir desse instante o Universo iniciou a sua longa marcha: surgiram as estrelas, os planetas e finalmente a Terra, há uns 5 bilhões de anos. Sobre ela apareceram os primeiros seres microscópicos; a seguir os maiores, até virem os dinossauros, as baleias azuis e as sequóias. Finalmente aparecemos nós, os homens, há cerca de 200.000 anos.

No entanto, uma coisa estranha parece acontecer no início da vida de cada homem ou mulher. Junto com a constituição física do seu corpo (ocorrida na fecundação do óvulo pelo espermatozóide), aparece — do nada — um espírito, sem o qual seríamos simples animais, ou estranhos zumbis vazios por dentro.

Mas não é isso: somos pessoas dotadas de inteligência e vontade livres, que nos permitem pensar no Universo inteiro, e de agir sem estar totalmente presos aos sentidos e instintos. Insisto: somos pessoas, somos “alguém”, e não uma “coisa”.

O que significa pessoa? Significa o próprio ser humano, o que há de mais radical no homem. Uma radicalidade tão profunda que nos permite dizer que a alma é da pessoa, que o corpo é da pessoa, que os atos são da pessoa, etc.

Sobre a questão do “aparecimento” de coisas, a Ciência só pode dar explicações de tipo cronológico, ou considerá-las como desdobramentos de “aparições” anteriores no tempo. Uma noção mais profunda e certeira é a de que tudo — o Universo e as pessoas — são criados por Deus. Deus criou também o tempo e o espaço, mas esse assunto vertiginoso fica para outra ocasião.

Criar o Universo é muito diferente do que criar pessoas. O primeiro desses atos criadores é geral, e basta para dar sentido ao mundo inteiro, incluindo todos os seus seres inanimados. Mas o homem — cada homem ou mulher — parece ser uma espécie de “criação segunda”, escolhida por predileção, e colocada no mundo para habitá-lo, conhecê-lo e transformá-lo. Criar o universo é criar um ambiente. Criar cada homem ou mulher é fazer surgir um ser capaz de amar, e que portanto está acima de todo o resto.

Ao criar o homem, Deus quis um filho, alguém com quem pudesse partilhar a Sua alegria e o Seu amor. As relações especialíssimas entre esse Pai e cada um de nós aparecem maravilhosamente indicadas na interjeição “meu Deus!” que as pessoas usam quando ficam pasmadas diante de algo que as surpreende.

Aristóteles errou — todos os gênios erram em alguma coisa — ao formular a noção de Cosmos, pois este incluiria Deus (o Primeiro Motor Imóvel, a Inteligência Pura) e os homens como sendo partes de um Todo. Ele não percebeu que sempre se pode pensar no que há do lado de fora desse “Todo”.

Não. Nem Deus nem os homens pertencem a nenhum Cosmos. Deus é infinitamente transcendente — nesse sentido é Origem —, e o homem, mesmo não sendo transcendente (talvez só um pouquinho), é filho de Deus. Isso o coloca numa posição muito especial perante o Universo — lembremos que podemos pensar no Universo inteiro com um só ato da nossa inteligência.

Nenhum homem está dentro do Universo, mas diante dele, para o contemplar e mexer nele à vontade. Está também diante de outras pessoas, mas estas são suas colegas, e isso é outra coisa.

Todos somos seres extra-terrestres, exatamente como nos filmes de ficção científica, pois ao nascer “desembarcamos” no mundo vindos de fora. O mundo não é hostil para nós — aliás foi criado para ser o nosso jardim —, e podemos ficar nele à vontade. Mas não somos partes dele, e sim seus donos e administradores.

É divertido: todo mundo é um ET, mas quase ninguém sabe disso.