Estudar: um grande remédio contra a depressão

“A Filosofia é um modo de fazer o homem lembrar-se da sua dignidade; é uma das grandes vias pelas quais o homem percebe que existe.”

Leonardo Polo

Infelizmente, todos já pudemos escutar a ladainha do depressivo: “ninguém me ama, ninguém quer saber de mim, isso porque eu não valho nada mesmo, a minha vida é inútil, eu não sirvo para nada, até hoje só perdi o meu tempo, não fiz nada que preste, sou um monstro deforme, tenho raiva de mim mesmo, não sei fazer nada direito, estou quebrado e arrasado, minha situação não tem saída, a tristeza me corrói por dentro, vou jogar fora tudo o que eu tenho, pois nada disso presta, assim como eu não presto, ai, ai, etc., etc.”

A dor pungente que o depressivo sente é real. Por isso, deve ser mais ou menos aliviada com fármacos cuidadosamente prescritos por um bom psiquiatra, na dose certa em cada caso. Uma soneca depois do almoço, todos os dias, também ajuda. Mas o mais importante é ter para com ele carinho e compreensão.

O que não é real é a percepção da própria dignidade. O depressivo considera-se um lixo, e isso jamais pode ser verdade, em nenhum caso. Todo ser humano, por mais erros que tenha cometido na vida, é sempre um projeto que pode chegar ao mais pleno sucesso. A Bíblia apresenta-nos a simpática figura do bom ladrão, que conseguiu ficar amigo de Jesus Cristo nos minutos finais da sua vida, e resolveu o seu problema de forma magnífica, e para sempre.

Já foi dito que a depressão é a doença do século: quase ninguém escapa. Por isso é bom estarmos prevenidos para o caso de ela atingir um grande amigo, ou um parente próximo, ou até nós mesmos, nunca se sabe...

Um tipo muito interessante de terapia — mais eficaz em certos casos do que a pura e simples distração com jogos ou conversas “forçadas” com outras pessoas —, é pôr diante do paciente alguns livros, desses que ele não está acostumado a ler. Nos casos mais graves, convém que contenham uma boa quantidade de ilustrações.

Com jeito, alguém que lhe faz companhia pode induzi-lo a ler umas páginas de um desses livros. Cada leitura é uma chispa que pode dar origem a uma fogueira. Se o fogo pega, começa um interessante processo de realimentação.

Em primeiro lugar, a distração. O depressivo começa a sentir uma certa curiosidade pela continuação da história (nem é preciso dizer que devem ser lindas histórias, com o final mais feliz do mundo), e anima-se a ler um pouco mais. Cada dose de leitura vai fortalecendo o seu ânimo para mais, e é possível que chegue a ler vários livros (biografias de heróis, de santos, de aventureiros, de gente boa em geral, por exemplo), retendo na memória o seu final feliz. É óbvia a comparação que fará com o seu próprio destino: “será que eu também posso me sair bem, no final das contas?”.

Quem lê, tem assunto, e assim as conversas do depressivo com quem está ao seu lado podem fluir melhor, girando à volta das coisas lidas, e o que estava afundado de repente se dá conta de que exerce o papel de condutor do diálogo, pois afinal foi ele quem leu os livros. Esse já é um primeiro grande passo.

O passo seguinte é decisivo. Após mais algumas leituras, o nosso amigo decaído pode chegar a ter um razoável domínio do assunto estudado — estudar é, em certo sentido, passear por muitas leituras — e aí percebe o que lhe faltava: que ele é um homem digno, que sabe alguma coisa que poucos sabem, que entende de algo com certa profundidade, e que até pode explicar isso a alguém, e que essas aulas suas poderiam ajudar outras pessoas, etc.

Mesmo que se trate de um experiente executivo, que passou a estudar borboletas ou mitologia grega, funciona.