Os livros secretos

Tudo o que é proibido, ou declarado impossível, desperta imediatamente na maioria das pessoas um instinto de transgressão, de oposição. É a famosa piada: como colocar oitenta espanhóis dentro de um táxi? É simples. Basta dizer-lhes que não irão caber de jeito nenhum.

Isso se pode aplicar de um modo muito interessante e inteligente à formação das crianças (e, como sempre, também aos adultos sadios, que nunca deixam de ser no fundo crianças).

Já é bem sabido que é cada vez mais difícil inculcar nos infantes o hábito da leitura. O exíguo vocabulário que utilizam é uma mostra disso. Às vezes, a impressão que se tem é que os jovens (e — insisto — também alguns adultos), em breve só se comunicarão por grunhidos monossilábicos.

Uma sábia mãe comprou certa vez um bom número de livros ilustrados — coleções sobre bichos, clássicos da literatura universal, pequenas enciclopédias, atlas, etc. — e os pôs nas prateleiras mais altas de um móvel que havia na sala de estar. Não disse nada: apenas os deixou lá, nesse lugar que seus filhos pequenos só poderiam alcançar subindo numa cadeira e trepando pelo móvel. Além disso, colocou alguns numa gaveta próxima ao seu quarto, dando-lhes a seguinte advertência: “ninguém mexa nesta gaveta, onde a mamãe guarda os livros que está lendo”. E era verdade: os que estavam na gaveta eram os que ela ia lendo, não só para dar exemplo, como também para distrair-se e ter assunto para conversas com os seus filhos.

O ardil deu certo: os misteriosos e secretos livros passaram imediatamente a ser o alvo da curiosidade de todos. Uma outra providência muito sábia foi a de manter em níveis razoáveis (ou seja: bem mais baixos do que a média nacional) a dose diária de televisão que se via na casa. Tudo isso levou à multiplicação de “assaltos” furtivos às prateleiras e à gaveta, para investigar o conteúdo de tanta sabedoria secreta. Os efeitos dessas leituras foram logo sentidos: em pouco tempo já falavam com os pais — sorridentes de satisfação — do que mais gostaram, do que os impressionou, e daquilo cujo significado ficou ainda por desvendar. Alguns não falavam muito: apenas “curtiam” para seus adentros o novo mundo recém descoberto.

Gravou-se para sempre nessas jovens mentes que a curiosidade é boa, e que sempre há algum livro escondido capaz de satisfazê-la plenamente, e de abrir horizontes para mais.

Obrigado, mamãe!