Lágrimas, diamantes e o brilho das estrelas

“Um homem jamais deve envergonhar-se das próprias lágrimas.”

Charles Dickens

A linguagem dos recém-nascidos é o choro: de fome, de dor, de medo, etc. Sua interpretação exata só as mães conseguem fazer, por uma intuição não isenta de mistério.

Quando vão crescendo, convém ensinar-lhes a não usarem mais esse recurso por motivos pouco importantes (preguiça, manhas, pequenas dores) e muito menos como artifício para chamar a atenção, obter um afago, ou satisfazer caprichos. Para isso existe a linguagem falada e os argumentos.

Nos adultos, existe uma versão imprópria do choro ( não falo dos atores, que têm a técnica de chorar quando querem ), que simula sentimentos que não se têm para manipular, fraudar e enganar. São as famosas “lágrimas de crocodilo” — expressão que vem do fato de os crocodilos lacrimejarem enquanto devoram sua presa.

Em qualquer outra das suas modalidades, o choro é uma manifestação de sentimentos: dores, ansiedades, medo, angústias, alegrias, etc. Muitas vezes, um sadio pudor leva-nos a esconder o nosso choro, para que os estranhos não tenham acesso a certos aspectos da nossa intimidade.

Mas existem situações que provocam sentimentos óbvios demais para que os escondamos: nessas ocasiões, chorar diante de todos é compreensível e até bonito. Basta ver o que fazem certos atletas diante do triunfo ou do fracasso em grandes competições internacionais, ou as pessoas em geral diante da perda de um ente querido.

Quando temos diante de nós um amigo, uma mãe ou um parente querido — uma pessoa que nos pode compreender ou ajudar — o choro (pelo motivo que for) é muito útil e especialmente significativo: é a manifestação do que temos por dentro, do que estimamos como mais precioso, daquilo que mais nos afeta. Mostram a nossa verdadeira face, com sinceridade e franqueza, e por isso mesmo é que são a maior prova de confiança que se pode dar a quem nos ouve.

Cada lágrima assim derramada é como um diamante precioso: uma janela para a nossa alma, que fica a descoberto, como que pedindo para ser consolada e orientada. E o amigo que as vê também fica comovido, partilha solidariamente dos nossos sentimentos (alguns também são os seus), e sentir-se-á movido a dar-nos o melhor de si: um conselho especialmente carinhoso, orientador, vindo da experiência de vida e da sabedoria — pouca ou muita: não importa — de alguém que quer mesmo ajudar.

Pode ser que os motivos que nos levaram às lágrimas provenham de uma visão falsa da realidade: são as chamadas “tempestades num copo d’água”, que pouco a pouco podemos superar, especialmente pela humildade que mostramos mediante o choro, que depõe as armas do orgulho e da suscetibilidade.

A tudo isso se chama “desabafar”: sair do “bafo” do isolamento para o ar puro da convivência franca e aberta. Em certos momentos da vida todos precisamos ter “um ombro para chorar”. E quando o fazemos, nosso olhar se abre: começamos a ver coisas que antes não víamos.

Especialmente importante é o choro de alegria: essa expansão de ternura diante de algo cuja beleza faz vibrar intensamente o nosso coração: o sorriso de uma criança, um magnífico gesto de amor, a descoberta de uma nova vida, um reencontro, o abalo diante de acontecimentos que só podem provir de um Deus que é Pai e amigo carinhoso... Tanta alegria não cabe num peito só: são lágrimas que temos necessidade de mostrar, e quem as vê percebe em cada uma o brilho de uma estrela.